10 novembro 2008

Lulu Santos e Heráclito


Vamos aceitar o convite de Lulu Santos e Nelson Motta para soltar a imaginação e liberar as fantasias nesse constante fluir:



COMO UMA ONDA NO MAR


Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia

Tudo passa, tudo sempre passará

A vida vem em ondas,como um mar

Num indo e vindo infinito


Tudo que se vê não é

Igual ao que a gente viu a um segundo

Tudo muda o tempo todo no mundo

Não adianta fugir

Nem mentir pra si mesmo - agora

Há tanta vida lá fora

Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar



A letra esclarece sutilmente a questão que atormenta alguns “filósofos” sobre a realidade estar no mundo exterior ou interior... como se fossem excludentes! Com o fluir da energia, ela começa internamente, circula no mundo exterior e volta para o seu ponto de partida. Neste retorno a energia é percebida de forma diferente, pois foi enriquecida pela experiência externa.

O conteúdo desses questionamentos nos remete a Heráclito de Éfeso (na Jônia, atual Turquia), um dos primeiros pensadores chamados de pré-socráticos. Com sua percepção da physis (fundamento, natureza) e a base no elemento fogo, o filósofo proclamou o “Panta Rhei” – ou seja, tudo vai se transformando. A vida é percebida como constante movimento (você não pisa no mesmo rio duas vezes...). O indivíduo a cada momento se transforma e torna-se diferente do que era anteriormente. É o mundo temporal que abarca nossa experiência de vida.
E assim o eu (ego) vai se modificando e incorporando novas expectativas e experiências, precisando seguir seu caminho de constante construção e reconstrução de si mesmo.

A energia precisa fluir, o que é válido tanto para os aspectos físicos como para os psíquicos ( libido - energia psíquica). Esse desenvolvimento possibilita cada ser na busca de sua meta que é tornar-se singular e completo, não negando qualquer componente da sua personalidade ou psique.

O fluir da vida traz a importância do gerúndio, pois o que importa é o que você está fazendo, pensando, sentindo, agindo, planejando, executando. Observar o resultado de tudo isso é entrar na dialética da vida, percebendo a lei que rege os contrários. Como observou Heráclito, quanto mais você se deixa absorver unilateralmente por um ponto de vista, mais você se aproxima do seu contrário. Essa é a dinâmica entre os opostos, cuja mudança pode ocorrer abruptamente. Quando nos aprofundamos em um dos pólos ou extremos de uma questão mais nos aproximamos do seu contrário. A vida pede que se contemplem os contrários e que se busque, na medida do possível, uma posição de equilíbrio dinâmico entre eles. Ou seja, precisamos saber que podemos transitar entre os opostos, mas permanecer em um deles é cristalizar a posição e estancar a energia. As grandes conversões e mudanças de atitude de vida ilustram muito bem essas possibilidades. As conseqüências, boas ou não, poderão ser observadas nos desdobramentos futuros e na plena realização do potencial de cada um.

Uma canção faz sucesso quando toca na alma ou no coração de muitas pessoas, normalmente trazendo temas compartilhados mesmo que não sejam assim percebidos. Aguardar e valorizar o novo faz parte da corrente da vida. A arte mostra o fluir e os intuitivos antecipam o que ocorrerá no consciente coletivo.

Heráclito foi considerado o pai da dialética. A dialética dos contrários traz sempre novas possibilidades. Como uma onda no mar...

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