02 novembro 2008

Aquiles e Tétis (1)

Aquiles tornou-se o herói grego da Guerra de Tróia, sendo considerado como semi-deus na Hélade (antiga Grécia) por sua valentia, força e destreza no uso das armas. Sua curta vida serviu como exemplo heróico para implantação da aristocracia grega conforme nos narra Homero.

Aquiles era filho de Tétis, uma divindade associada ao mar por sua filiação de deuses marítimos primordiais Nereus e Dóris. Segundo alguns poucos fragmentos decodificados, Tétis foi uma divindade adorada pelos primeiros habitantes da Grécia que acreditavam ser ela a criadora do universo. Essa divindade mitológica permaneceu por muito tempo sendo reverenciada até que os deuses Olimpícos (terceira geração divina, liderados por Zeus) começaram a ser mais amplamente cultuados na Hélade.

Algumas antigas divindades passaram a ter um papel secundário, chegando a cair lentamente no esquecimento. Para acelerar esse processo, visando tirar o apelo popular dos antigos personagens divinos, a elite predominante passou a contar história de Tétis incluindo seu casamento com um mortal.

Inicialmente o oráculo (profecia, revelação) sinalizou que Tétis daria a luz a um filho que destronaria seu pai. Zeus pensou em cortejá-la, mas desistiu com esta ameaça velada, tratando de casá-la com um mortal, no caso Peleu, rei da Tessália (região norte). As profecias anunciadas ajudavam para que determinada divindade pudesse ser afastada para a consolidação de outras.

Segundo a narrativa, Quíron, o “centauro ferido”, orientou Peleu na conquista de Tétis. Dessa relação nasceram sete filhos que seriam mortais devido as qualidades do pai. Mas a mãe não se conformou com essa limitação para os filhos, buscando fazê-los imortais com o uso do fogo. Nessa tentativa, os seis primeiros morreram. Quando Tétis, segurando Aquiles pelo calcanhar, começou o ritual, Peleu retirou o filho com a intenção de salvá-lo. Alguns estudiosos afirmam que Tétis, segurando o filho pelo calcanhar, o mergulhou nas águas infernais do rio Estige para conseguir sua imortalidade. De qualquer forma, ficou a marca e o registro da fragilidade dos calcanhares de Aquiles.

O jovem Aquiles foi criado e educado pelo mestre e centauro Quíron com a supervisão de seu pai Peleu. A mãe Tétis acompanhou à distância o crescimento do filho, estando presente para ajudá-lo e orientá-lo quando necessário.

A alimentação proporcionada por Quíron incluía mel de abelhas (alimento associado a sabedoria e ao conhecimento), com medula de ursos (animal cujo simbolismo é ligado ao poder temporal e à classe dos guerreiros) e de javalis (animal associado à autoridade espiritual e classe dos sacerdotes) e com vísceras de leões (animal com simbolismo de poder, sabedoria e justiça). Seu treinamento ocorria em contato com a natureza e atividades de caça, adestramento de cavalos, medicina, música e também a prática da virtude. Aquiles tornou-se um adolescente muito belo, louro, de olhos vivos, intrépido, simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência.

Se a antiga divindade Tétis não conseguiu fazer de seu filho um imortal, pôde testemunhar a vida de Aquiles coroada de honra e vitórias nas batalhas em que esteve presente. Aquiles foi um dos grandes heróis gregos da Guerra de Tróia, sendo reverenciado e cultuado pelos seus feitos e considerado como modelo a ser seguido pelos jovens por muitas gerações. Este aspecto foi muito bem explorado pelo diretor do filme “Tróia” e principalmente pelo ator Brad Pitt cujo desempenho foi marcante, explorando muito bem o impacto das ações espetaculares do grande herói.

Sua mãe Tétis usufruiu da gratidão de Hera, a grande deusa do Olimpo e de Zeus, seu marido. Se não criou seu filho, cuidou e educou Hefesto quando este foi arremessado do Olimpo e caiu no mar. Hefesto era o deus das forjas e trabalhava com o fogo. Ele passou nove anos sob os cuidados de Tétis no fundo do mar. Hefesto tornou-se o protetor amigo e leal tanto de Tétis como de seu filho Aquiles.

Por isso Hefesto se perfilou com os gregos na famosa guerra, confeccionando também as vestimentas indestrutíveis de Aquiles, além de incentivá-lo a manter-se otimista e valente nas lutas. Em certa ocasião, durante as batalhas, o rio Escamandro, cansado de receber tantos cadáveres em seu leito, pretendeu submergir Aquiles e seus guerreiros. Hefesto usando chamas, labaredas e seu sopro ígneo nas águas de Escamandro, obrigou-o a manter-se em seu leito. Homero, falando através de Aquiles na Ilíada, descreveu lindamente que: “a força do rio está em chamas”.

A educação de Aquiles por Quíron teve como objetivo, além da justa preparação para a luta armada e do cumprimento de um grande destino, o desenvolvimento da oratória. Como já vimos, os gregos buscavam o desenvolvimento completo das personalidades cultuadas. Durante sua educação, o herói teve um grande companheiro e amigo de todas as horas chamado Pátroclo. Aquiles se destacava por sua força, sua destreza como caçador e por ser um guerreiro quase indestrutível em lutas com variadas armas. Pátroclo era o amigo leal que o acompanhava em treinamentos e batalhas.


(continua...)

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse artigo começa a mostrar como será um sucesso,como é profundo e completo esse livro, além da excelência do blog, que já observamos desde o primeiro artigo
Parabéns