28 novembro 2008

Dois filmes e Eros (1)



O rei Menelau, de Esparta, faz a narrativa dos fatos marcantes no filme HELENA DE TRÓIA. Se ele foi um personagem menor, sai engrandecido no final por sua atitude junto a Helena.

O filme realça os pontos de vista a partir do amor e do poder. Afinal, qual foi o motivo dessa guerra (mítica), que foi considerada a maior da história? Essa dúvida é alimentada no decorrer da narrativa e os dois motivos citados são de enorme importância para as tomadas de posição nas batalhas e na vida como um todo. As pessoas, tanto naquela época como hoje, enfrentam os mesmos problemas compartilhados e humanos em geral, ou seja, arquetípicos.

Amor e poder não constituem pólos de um mesmo eixo, pois um não é o contrário do outro. Poderíamos situar o ódio como oposição ao amor, assim como a subserviência ao destino em relação ao impulso do poder. Entretanto amor e poder são excludentes, onde um está presente normalmente o outro se afasta. Quem ama não controla e muito menos domina. As pessoas mostram isso nas suas ações diárias, pois aquele que está preocupado apenas com sua ascensão social ou profissional termina por colocar as outras questões humanas em planos secundários.

A guerra de Tróia simboliza a primeira metade da vida com os desafios das conquistas (poder) e da descoberta do amor. Qual prevalecerá? Qual deles será o mais relevante para nossas vidas individuais? Os dois aspectos são importantes, mas normalmente há a predominância de um deles.

Menelau conta que seu irmão Agamnênon (Micenas), o mais forte dos gregos, estava com a vida impregnada pela busca do poder. O rei de Esparta citado por Homero menciona:

“A guerra é travada entre nações. Mas são os seres humanos que pagam por ela. A única coisa que nos resta é o amor, a única e verdadeira dádiva dos deuses. É através do amor que esperamos e rezamos para que os deuses nos dêem a paz.”

Menelau surpreende Helena, já preparada para morrer, ao poupar sua vida. Mas como exterminá-la brutalmente se ele vivia em função do seu amor? Como resposta à pergunta sobre o que iria fazer após a guerra, Helena responde: “Vou seguir”. Depois de tantas tragédias e desgraças na sua vida, ela simplesmente se dispunha a..... seguir em frente!

Afinal, o que é o amor e como ele se manifesta? Quando falamos desse assunto estamos nos referindo a EROS de modo que o tema precisa então ser melhor elaborado, o que veremos em próximos artigos. Enquanto isso ficamos atentos à atuação desse DAIMON (sentido socrático da palavra como guia, inspirador...) chamado pelos romanos de Cupido. Segundo Platão, Diotima ensinou a Sócrates que Eros era um daimon...

Outro filme interessante sobre o tema é DON JUAN DE MARCO, de 1995, produzido por Francis Ford Coppola, com Marlon Brando, Johnny Depp, Faye Dunaway. “É a história de um homem que pensava ser o maior amante do mundo...”

“Um rapaz usando uma máscara negra ameaça se jogar do alto de um prédio. O jovem afirma ser Don Juan, o lendário conquistador de mulheres. Por ter perdido seu primeiro e verdadeiro amor, caiu em profunda depressão. O psiquiatra interpretado por Marlon Brando é chamado para salvá-lo. No início da história, este profissional parece cansado, pronto para se aposentar. Mas, à medida em que ‘Don Juan’ começa a descrever sua vida, ele vai se sentindo revigorado. Ambos se envolvem em um curioso relacionamento que beneficiará até a mulher do psiquiatra, sempre relegada a segundo plano pelo marido.”

Em determinado momento do relacionamento, o paciente faz as seguintes perguntas ao psiquiatra (saudações à Dulcinéa pela sensibilidade e conhecimento):

O que é sagrado?
De que é feito o espírito?
Por que vale a pena viver?
Por que vale a pena morrer?

As questões instigantes provocam ligeira reflexão. O sagrado é tudo aquilo que está de acordo com a vida, é o que busca o sentido e o significado como um brinde à existência humana; é o fato de estar seguindo esta corrente e este fluxo. É também a conseqüência de tudo isso. O sagrado é o encantamento, é o simples, mas é também o que está além da compreensão humana. Ocorre quando ficamos mudos (kairós?) em certos momentos como no pôr-do-sol, quando nasce uma criança, quando apreciamos uma flor, uma imagem, uma fantasia. São momentos de emoção, expansão e pertencimento. Todos precisamos ter espaço para a manifestação desses aspectos fundamentais, mas atualmente parece haver dificuldades para isso, pois o sagrado foi eliminado dos componentes sociais, das instituições, das organizações e até mesmo de muitas famílias. Mas o apego ao consumismo e ao tempo linear e cronológico deve ser sempre uma opção responsável de cada pessoa. Maior ampliação da consciência é o antídoto para o tratamento massificado promovido pela mídia e instituições. Cidadania seria a expressão da consciência no nível social, campo que não beneficia o consumismo desenfreado e nem a paixão política ou ideológica.

O espírito, nos muitos sentidos da palavra, aponta para o princípio animador ou vital dos organismos físicos. No grego corresponde a ‘pneuma’ (o sopro vital), pois o princípio do ar e da respiração acompanha o indivíduo desde o nascimento até o último suspiro. Assim, o espírito não é a ALMA (conceito que ainda veremos de acordo com a Psicologia Junguiana). Nós sentimos o espírito, não sabemos tanto dele da mesma forma que normalmente não tomamos conhecimento da nossa respiração, mas ela continua no seu ritmo indispensável. Não podemos saber de tudo o que ocorre, assim catalogamos o que não é percebido como participante dos processos inconscientes. E se não sabemos de tudo, é boa escolha não alimentar a prepotência e termos mais humildade intelectual. O espírito se manifesta em nós através de inspirações rápidas e fugidias que voam para as nuvens como pássaros muito rápidos que não foram recebidos na nossa consciência egóica. É também como o vento que surge e não sabemos de onde vem nem para onde vai.

Vale a pena viver se conseguirmos experimentar o sagrado de que somos, o que somos e como somos. Seres únicos, singulares, específicos – e participantes de um cenário maior e social de eternos aprendizes. E ter consciência de tudo isso.

Vale a pena morrer porque faz parte do sagrado da vida. Se vale a pena viver, a morte é o desdobramento natural. Tem medo da morte quem normalmente receia a plenitude de sua vida. Não há conflito entre vida e morte. A vida completa contempla nascimento e morte. Quem chegar ao seu momento culminante com a impressão de que tirou o máximo de si mesmo encontrará a plenificação e a realização. Para Jung esse é o “coroamento da vida. E a morte é a última linha de todas as coisas: mas eu não abro mão de nenhuma delas.”

Voltando às questões suscitadas no filme, passemos à resposta única do nosso Don Juan de Marco para as quatro perguntas: SÓ POR AMOR! (Ou com ele está relacionada).

A palavra amor é dessas que nos dão a impressão de que sabemos tudo ou então não sabemos nada, dependendo de cada momento que marca o nosso tempo mágico (kairós). Vimos sua importância ressaltada nos dois filmes. Mas o que é o amor? Para melhor reflexão, vamos associá-lo com EROS, como já faziam os antigos gregos.

(continua)


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24 novembro 2008

Detalhes do Blog







Estamos muito contentes em compartilhar assuntos tão interessantes e instigantes. Nossa intenção é trazer certa reflexão para a vida, pois a rotina de objetivos apenas “egóicos” e materialistas, apesar de necessária, traz desgaste e cansaço. Gostaríamos de comentar alguns aspectos para melhorar nosso contato com os “assinantes” do blog:










1) Temos um grupo variado de pessoas, incluindo enfermeiros, médicos, homeopatas, advogados, professores, psicólogos, jovens, idosos, astrólogos, arteterapeutas, psicopedagogos, executivos, administradores, funcionários diversos, estudantes, donas de casa, aposentados, etc. Achamos que essa diversidade é maravilhosa, entretanto é bastante delicado elaborar artigos que atinjam um público tão eclético. Mas esse é nosso interessante desafio, pois um dos objetivos deste trabalho é tornar acessível alguns aspectos da mitologia e da Psicologia Junguiana. É um fio de navalha, já que não devemos usar palavras e conceitos muito complexos ou elaborados. Contudo, é uma forma de colocar pessoas em contato com idéias importantes que podem contribuir para o processo de autoconhecimento. Mas para sabermos o ponto certo, precisamos contar com o “feedback” ou opinião das pessoas e isso pode ser feito pelos comentários no próprio blog ou por email.

2) Temos, além do aspecto do nível de profundidade dos artigos, a sua extensão ou tamanho. Se encurtar muito compromete o conteúdo; alongar demais pode torná-los cansativos. E as pessoas não têm muito tempo disponível. Mas esse é outro assunto que abordaremos em artigo futuro: a administração do tempo! A comodidade exagerada e nunca termos tempo são fatores que fazem a vida perder seus aspectos de qualidade. Afinal, como estão sendo percebidos os artigos em termos de conteúdo e de tamanho?

3) Gostaríamos também de ter sugestões de assuntos ou temas a serem abordados, apesar de certo planejamento. Mas qual é o grau de satisfação dos leitores com as publicações?
Procuramos ficar atentos a isso.

4) Inscrição no blog. Os artigos são focados nesse público que acompanha realmente o desenvolvimento dos assuntos. Muitas pessoas visitam e gostam do blog, mas a inscrição consolida o grupo e motiva a continuação do trabalho, mostrando que as pessoas estão usufruindo do conteúdo. Por isso é importante que nos ajudem a divulgar junto a pessoas conhecidas e familiares que possam participar. Divulgue nosso blog! A melhor propaganda é aquela individual (boca a boca, lista pessoal de emails).

5) Apesar da comodidade de receber os artigos na caixa de email, é importante visitar o blog pelo menos uma vez por semana. Pode haver novidades diversas, programações, etc. Nesta semana colocamos uma enquete/pesquisa que está no final da barra esquerda. Participe, dê o seu voto!

6) A aquisição de livros com o “livreiro” Francisco também é uma forma de participação, usufruindo de comodidade, qualidade no atendimento e bom preço. Os dados estão na barra esquerda no blog.

7) O livro MITOLOGIA E VIVÊNCIAS HUMANAS foi enviado para a gráfica, no dia 24/nov/2008, após um final de semana pleno de trabalho de acabamento. Informaremos quando estiver disponível nas livrarias e com o Francisco. Certamente a participação no blog ficará mais estimulada com a leitura desse livro.

8) Vários “assinantes” do blog estão repassando ou imprimindo alguns artigos. Não há problema algum. Lembramos apenas que, em certas situações, é importante citar a fonte, dando os créditos devidos. No que diz respeito à divulgação, é muito mais interessante tornar mais conhecido o blog e nosso livro que o artigo especificamente.

9) É também importante sabermos o número ideal de artigos a serem postados semanalmente. Em princípio pensamos no mínimo em um e no máximo em três. Provavelmente faremos uma enquete sobre isso.

Estamos muito contentes com a receptividade de muitas pessoas. Sabemos que dúvidas e enfoques diferentes poderão ocorrer e a diversidade é saudável. Participem!


Obs. Os Grupos de Estudo têm sido uma ótima experiência compartilhada. O grupo das tardes de quintas-feiras aproveitou recentemente verdadeiras sessões de cinema para apreciar e discutir HELENA D E TRÓIA e TRÓIA. Fomos agraciados com a gentileza e o carinho da anfitriã e amiga Ana, que além da simpatia nos brindou com um manjar digno de ser servido no Olimpo: um bolo de nozes de despertar todos os prazeres do paladar.

Assim, juntamos a magia do momento para despertar reflexões oriundas dos mitos e dos filmes com a apreciação desse resultado de uma verdadeira obra alquímica que busca as transformações e a elevação dos prazeres naturais e instintivos.

E ela ainda nos oferece a receita maravilhosa:


Bolo de Nozes (Galvão)

200g. de manteiga
2 xic. de açúcar
2 xic. F. de trigo
3 ovos
1 colher de sopa de fermento royal
½ xic. Chá castanhas ou nozes moídas
1 vidro leite de coco

Modo de Fazer

Bata em creme a manteiga, com o açúcar e junte as gemas uma de cada vez. Peinere juntos a farinha e o fermento. Adicione ao creme alternando com as nozes e o leite de coco. Por fim, junte as claras em neve e leve ao forno moderado (190*C) por 40/45minutos.

Cobertura

Leite moça e, aproximadamente 1 colher de sopa de chocolate. Quando estiver pronto jogue conhaque e nozes.


Muito obrigado, Ana! Um brinde a todos!

19 novembro 2008

Belchior e Cazuza





Belchior e Cazuza

Crítica e autocrítica. Pessoal e de uma geração. Para alguns o sonho acabou e isso significa cristalizar as idéias, a ideologia e o modo de perceber o mundo. Para outros o processo de questionamento e ré-construção continua. Belchior já nos incitava com palavras consagradas na linda voz de Elis Regina:

COMO NOSSOS PAIS

Não quero lhe falar meu grande amor das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi e tudo que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz


Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantada com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração


Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais


Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que 'eu tô por fora, ou então que eu tô inventando'
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem


Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Tá em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos...
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais!



E Cazuza complementa junto com Arnaldo Brandão:

O TEMPO NÃO PÁRA

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha no palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Quando o poeta permite o fluxo de idéias, imagens e símbolos, agitando o consciente pessoal ou coletivo que muitas vezes tem a pretensão de reprimir essa dinâmica, nós pobres mortais, atingidos e admirados, somos convidados a nos calar e a refletir.

18 novembro 2008

Alma (2)


(continuação)

Para o psiquiatra e estudioso da mente humana Carl Gustav Jung, o termo alma é bastante específico. Ele buscou um entendimento sobre o assunto em bases históricas e nas suas observações diretas em fenômenos que incluíam dissociações de personalidade em esquizofrênicos. Mas Jung também percebeu que mesmo em indivíduos normais ou adaptados há vestígios de certa divisão de personalidade. Basta observar alguém em circunstâncias diferentes para percebemos mudanças de atitude quando esta pessoa passa de um ambiente para outro.

Muitas vezes, determinados locais exigem comportamentos diferenciados, pois há expectativas sociais que precisam ser atingidas. Entretanto, se houver identificação plena com um papel (persona – nome oriundo do teatro grego), poderá ocorrer uma duplicação ou dissociação da personalidade. Cada pessoa tem vários papéis (personas) e precisa desempenhá-los com um mínimo de eficiência. Afinal, somos pais, mães, profissionais, cidadãos, vizinhos, alunos, professores, ou seja, temos uma infinidade de papéis. Em contraposição ao ambiente profissional e social, no meio da comodidade familiar, muitos indivíduos apresentam atitude divergente, como ilustra o provérbio: anjo na rua e demônio em casa. Poderíamos acrescentar: e vice-versa. A persona não é, então, idêntica à personalidade, podendo ser definida como a relação com o mundo externo. Ela não é simplesmente uma escolha pessoal, representando uma necessidade coletiva que cada indivíduo precisa corresponder em maior ou menor grau.

Mas e o mundo interno, repleto de conteúdos que afloram do interior da psique? Dessa instância surgem, mesmo sem compreendermos, objetos psíquicos que se apresentam na consciência como inspirações, intuições, imagens ou fantasias. Como tratar com fatores que transcendem a consciência? Essa atitude em relação ao rico e perigoso mundo interno Jung denominou de alma. Ela faz parte da nossa vida, em maior ou menor grau de desenvolvimento e é algo que se mostra funcional para a totalidade da nossa psique, proporcionando maior interação entre consciente e inconsciente.

Com qual desses dois mundos (externo e interno) iremos nos relacionar com maior energia? Ou conseguiremos manter o equilíbrio entre esses aspectos nas diferentes fases da vida que privilegiam adaptações diferenciadas? Representa inegável perigo como a natureza costuma reagir aos exageros de qualquer desses dois pólos exclusivamente. Há pessoas que concentram todos os seus esforços de vida nas realizações externas de poder, consumo ou conquistas pessoais. Ou seja, algo não se desenvolveu com relação aos seus potenciais interiores. Este desequilíbrio costuma cobrar seu preço na saúde física e/ou psíquica.

Com o desenrolar da vida a pessoa pode sentir necessidade de se libertar de qualquer estado de imaturidade demasiadamente rígido e categórico, como também da concentração de energia apenas em alguns objetivos egóicos (poder, realização material, por exemplo). Pode surgir certa inclinação para a libertação da sua alma no sentido de modificar essa forma de vida restritiva, buscando um estado superior de amadurecimento e evolução espiritual. Por isso, na segunda metade da vida a alma tem uma participação mais atuante, proporcionando a integração de conteúdos e valores até então em segundo plano de existência.

Historicamente encontramos os símbolos dessa necessidade de transcendência e evolução do ser humano. Escavações de civilizações antigas mostram a atuação dos símbolos e dos xamãs, notadamente nas figuras de pássaros, serpentes, dragões e outros que também aparecem nos sonhos atuais de muitas pessoas. Podem ser sinais de um processo de individuação em andamento. Uma jornada solitária também pode dizer respeito a esse sentido, mostrando que muitas pessoas estão buscando mudar seu padrão de vida marcado pela contenção, o que ocorre nas marcantes peregrinações que provocam mudanças na forma de encarar o mundo (principalmente o interior!).

A libertação da alma diz respeito às possibilidades de ampliação das vivências, já que a inclinação a certa necessidade de transcendência é marca histórica do ser humano. Esse marco pode significar o renascimento, pois a pessoa quer se conhecer melhor, seja através da sua vida prática ou com o apoio de uma psicoterapia. De qualquer maneira, é um ponto de iniciação que mostra o desenvolvimento e a busca de novas etapas de vida.

No estudo da mitologia, quando surgem as deusas e deuses, podemos nos lembrar imediatamente da alma, aquela entidade que está buscando uma relação entre o consciente e inconsciente. Este diálogo é possível de ser ampliado com o desenvolvimento da sensibilidade, exigindo o investimento de certa energia psíquica que só se torna disponível se não houver concentração de forma unilateral nos aspectos da persona.

A mitologia grega apresenta as divindades como expressões de sentimentos e atitudes humanas. Como ainda estava se estruturando o desenvolvimento da consciência, as ações eram melhor visualizadas quando projetadas no mundo exterior. Por exemplo: Ares (o deus da guerra) representa os impulsos violentos e rudes que estão presentes tanto em atitudes masculinas quanto femininas. As explosões de raiva ou descontrole são atos praticados por ambos os sexos na sociedade. Afrodite é uma divindade ligada ao acasalamento, à novas floradas. Sua presença é facilmente identificada em qualquer ser humano que esteja apaixonado.

A nossa cultura, marcada pelos gêneros sexuais, deixa as pessoas inicialmente confusas e inclinadas a identificar os deuses com os homens e as deusas com as mulheres. Essa atitude precisa ser modificada para melhor compreensão dos mitos. A Psicologia Junguiana vem em nosso auxílio, alertando que os gregos elaboravam com os mitos as questões humanas universais e sem a predominância do homem ou da mulher. A totalidade de cada ser inclui a capacidade de percepção e desenvolvimento de qualidades mitologicamente masculinas (discriminação, análise, separação, espírito, céu, logos) e femininas (percepção do conjunto, aglutinação, relação, união, terra, corpo, eros).

A junção do elemento masculino (consciente) com o feminino (inconsciente) só é possível com a atuação da alma. Ela é tanto o portal de acesso ao mundo interior como também guia de grande valor nesse mundo percebido como “infernal” e perigoso. Nossos sonhos mostram a atuação da alma na tentativa cumprir a sua meta de ligação e mensageira dos potenciais humanos de crescimento espiritual. Os sonhos tiveram enorme valor na antiguidade, recuperando seu status de importância para a saúde psíquica com o advento da psicologia profunda que leva em conta os fatores do inconsciente coletivo.

As artes também mostram o potencial dessa ligação, o que é decantado desde tempos imemoriais. Os contos de fada, que tanto encantam as crianças, trazem os motivos mitológicos, ilustrando o funcionamento e a dinâmica da psique. Com isso, há um encorajamento aos pequeninos para as etapas de vida que enfrentarão, apesar dos enormes riscos, dificuldades e poderes monstruosos.

Como exemplo histórico e clássico, Dante Aleghieri – considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, no início do século XIV, na magistral obra sobre um sonho em que enfrenta peregrinação pelo inferno, purgatório e paraíso (não havia ainda a concepção do purgatório na religião católica). Nesse livro, A Divina Comédia, o autor também narra sua perambulação nesse mundo intermediário são purificados os: soberbos, invejosos, coléricos, preguiçosos, avarentos, gulosos e luxuriosos. Poderíamos imaginar que são aqueles que concentraram suas energias em nódulos destruidores do sentido de vida e não ouviram a própria alma.

E talvez representando a própria alma do autor, Beatriz proporciona as possibilidades de guia no desafio dessa arriscada, irônica e didática peregrinação.

17 novembro 2008

Alma (1)


“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”


Tabacaria
(Autor: Fernando Pessoa)

.........
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim, não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me,
Quando quis tirar a máscara
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido........


Uma das características do ser humano é possuir as experiências de vontade e reflexão como maneira de conhecer e entender acontecimentos externos e internos. As pessoas assumem atitudes diversas para um melhor ajuste aos ambientes sociais (externos). De um modo geral, possuímos máscaras (personas) com a qual nos apresentamos na vida pública, outras para a vida intima e familiar e outras ainda para se adequarem a determinadas situações. A relação com o mundo exterior torna-se fortalecida e facilitada quando a personalidade se ajusta às expectativas ambientais e das pessoas participantes.

Ao longo da vida e principalmente no círculo familiar, existem papéis que podem ser experimentados: criança travessa, bode expiatório, ovelha negra, dom Juan, mulher fatal. Muitas dessas máscaras continuam pregadas à face, mesmo quando não mais necessárias, como mencionou o brilhante poeta na parte do poema destacada.

A máscara serve ao indivíduo como um mecanismo de adaptação ao meio, possuindo capacidade para mudar ao longo da vida. Na realidade, usamos vários modelos para os diversos papéis e situações, algo que é necessário na adaptação familiar e social. Ela viabiliza uma personalidade pública, funcionando como uma proteção entre a pessoa e o mundo. Uma das metas almejadas dos processos psíquicos é a flexibilização destas máscaras, visando a modificar antigos padrões e sua utilização enquanto é preciso.

Da mesma forma o contato interno, com aquilo que temos de mais íntimo e desconhecido, é feito através de uma entidade (ou personalidade) a alma.


Mar Portuguez
(Autor: Fernando Pessoa)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Para o indivíduo, em sua relação interna com o inconsciente, os perigos são imensos, assim como o mar ao qual Deus ofereceu os atributos dos perigos e abismos. Para atuar junto à magnitude de forças presentes no inconsciente, a alma permeia e permite o contato da consciência humana com a energia luminosa que possui no seu interior.

Podemos assim abstrair que a alma é complementar à máscara (persona) e que apresenta a função de ligar o indivíduo às camadas mais profundas da psique. A alma funciona como um portal entre a consciência individual e as áreas mais profundas do ser (inconsciente coletivo). Assim, quando dizemos que a pessoa “tem” alma, significa que ela mostra a sua sensibilidade desenvolvida, iniciando no seu próprio contato com o mundo interior.

A maneira como a pessoa trata seu mundo interior retrata sua alma. E isso se manifesta também nas suas relações com os objetos externos. A percepção com mais equilíbrio entre os fatores externos e internos é questão fundamental para a saúde psicológica, pois se um dos aspectos prevalecer o eu perde a sua flexibilidade. Alma e persona mantêm uma relação de simetria e complementação, podendo ser uma o espelho da outra.

O desenvolvimento da consciência coloca o indivíduo e sua alma num processo dialético. É o contato entre a parte racional e a irracionalidade do inconsciente coletivo que marca, muitas vezes de maneira acentuada, a segunda metade da vida. Este diálogo é parte do Processo de Individuação, que promove a busca da realização do nosso tesouro interno. O que exige determinação e muita transpiração.


“Para Ser Grande”
(Autor: Ricardo Reis ou Fernando Pessoa)

“Para ser grande, sê inteiro:nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”


O simbolismo histórico da Lua aponta para a sua conjunção com o Sol, mostrando o potencial a ser realizado nesse encontro do mundo inconsciente quando pode entrar em contato com as luzes da consciência. É o processo alquímico das transformações da natureza e do próprio homem. Com as asas da alma...



12 novembro 2008

Versões dos Mitos


Ver filmes sobre mitologia pressupõe uma atitude crítica que não difere de quando vemos outras histórias projetadas na tela. Na realidade, pouco importa se as narrativas foram inventadas como forma de ficção. Os cinéfilos ficam atentos aos mínimos detalhes, imaginando, em todo momento, qual a intenção do diretor, que é um verdadeiro contador de histórias. Cada cena, imagem ou diálogo são intencionais e certamente remeterão a uma estrutura geral e estratégica planejada pelo diretor. Afinal, conseguiremos antecipar os desdobramentos da história e prever as reviravoltas da trama e o final do filme? Conseguiremos apreender sua mensagem subliminar?

Apreciar as narrativas sobre mitologia leva a um comportamento pleno de expectativas. Mas, nos casos que envolvem mitos, é importante esclarecer ainda mais alguns aspectos.

Como vimos, as versões de TRÓIA e HELENA DE TRÓIA apresentam os mesmos personagens com características e personalidades totalmente diferentes. No primeiro, Brad Pitt personifica um Aquiles mais heróico e filho de uma deusa (Tétis). No segundo, o herói não assume o mesmo grau de importância ou destaque. Helena também é apresentada em duas versões distintas: uma aventureira capaz de causar uma guerra sem proporções ou como autêntica filha de Zeus, capaz dos maiores sofrimentos em nome do amor. Essas diferenças nos levam a questionar, levando em conta nossos aspectos lógicos e racionais, sobre qual seria a verdadeira história escrita por Homero. Mas seria essa indagação algo tão importante? Vamos utilizar Jung como nosso guia (1*, p.112) para tentar desvelar essa questão.

Para captar o sentido do mito precisamos abrir mão do predomínio dos aspectos racionais e lógicos. Esses princípios norteiam o espírito científico, que verifica o fenômeno do simbolismo como verdadeiro aborrecimento, pois os símbolos não se deixam apreender de maneira completa e precisamente apenas pelo intelecto. Nesse ponto aparece nossa resistência em aceitar várias versões dos mitos. Sem perceber diretamente, desejaríamos apreciar as histórias de forma mais simples, linear e lógica.

Entretanto, a origem dos mitos remonta ao primitivo contador de histórias, aos seus sonhos e às emoções que a sua imaginação provocava nos ouvintes. Esses contadores não foram gente muito diferente daquelas que gerações posteriores chamaram de poetas ou filósofos. Não os preocupava a origem das suas fantasias; só muito mais tarde é que as pessoas passaram a interrogar de onde vinha uma determinada história. No entanto, no que hoje chamamos de Grécia ‘antiga’ já havia espíritos bastante evoluídos para conjeturar que as histórias a respeito dos deuses nada mais eram que tradições arcaicas e bastante exageradas de reis e chefes há muito sepultados. Os homens daquela época já tinham percebido que o mito era inverossímil demais para significar exatamente aquilo que parecia dizer. E tentaram, então, reduzi-lo a uma forma mais acessível a todos.

Assim, os aedos e rapsodos, que contavam histórias nas praças da antiga Grécia, foram os precursores dos poetas, artistas e até mesmo dos filósofos. Eles levavam as pessoas a refletir sobre suas vidas, incluindo a participação coletiva no passado, presente e futuro.

Todavia, os gregos se autopersuadiram de que seus mitos eram simples elaborações de histórias racionais ou ‘normais.... Algo parecido ocorreu na história recente com relação aos sonhos quando alguns estudiosos concluíram que eles não significavam o que pareciam significar. Essa forma de abordar o assunto percebia de forma absolutamente reduzida imagens ou símbolos que apresentavam.

Perceber a grandeza de mitos e símbolos é algo que exige toda a personalidade e não apenas a percepção pela razão (hemisfério esquerdo do cérebro!). Esses conteúdos normalmente têm mais de uma explicação e apontam para direções diferentes, pois se referem e tocam nossos conteúdos inconscientes ou parcialmente conscientes.

Mitos e símbolos nos atingem trazendo afetos e emoções que não podemos encerrar em definições absolutas, mostrando assim a intervenção do inconsciente, ou seja, algo que não conhecemos ou captamos apenas em certa parcela.

Inconsciente e emoção são dois fatores participantes de nossas vidas e precisam ser levados em consideração. Quando percebemos a dinâmica de suas atuações, torna-se claro que é impossível abarcá-los somente com nosso pensamento racional. Compreendendo-os ou não eles participam do fluxo de nossas existências. Os símbolos que os provocam carecem de assimilação e integração. Nosso próprio inconsciente produz seus símbolos, que surgem espontaneamente nos sonhos, nas artes, nos mitos e em muitas expressões humanas..

O grande poeta Fernando Pessoa acredita no uso de palavras como um instrumento ao mesmo tempo emotivo e intelectual, pois elas contêm uma idéia e uma emoção. Ele percebe na arte clássica (grega e romana) uma disciplina natural, espontânea que está nas emoções com uma harmonia comum à alma, repelindo o que é excessivo. Isso é sentido e não pensado, não é uma deliberação da mente. Assim, buscam-se o ritmo e a emoção na harmonia que toca a alma.

Essa forma de perceber o mundo externo se disponibiliza quando são acionados os conteúdos internos de cada pessoa. Ao vermos as figuras mitológicas em ação, na forma que são contadas ou narradas pelos contadores de histórias ou nos próprios filmes, é importante perceber em que ponto somos tocados. Algo em nós entra em sintonia com a forma de agir dos personagens que admiramos, ou que então nos incomoda com aspectos desconfortáveis para a nossa própria personalidade.

Procurar a versão mais verdadeira e correta seria uma tarefa apenas intelectual e inglória. O próprio Homero, ao citar deuses, homens, mulheres e heróis na Guerra de Tróia se baseou em narrativas que se sucederam e sofreram transformações durante mais de três séculos. O que ele narrou sofreu certamente a interferência do seu ponto de vista pessoal e dos interesses que tinha em mente no momento daquela sua criação. O mito desperta em cada um a sua capacidade de co-criador da história e de como percebe o mundo. As histórias são fortes por si mesmas, despertando muitos motivos interiores em todos nós. Esse é o aspecto relevante e que pode contribuir para o autoconhecimento. O mestre Junito Brandão percebia nas várias versões o pulmão do mito, algo que o mantém vivo e energizado, podendo ser contado e recontado sucessivamente. O seu valor está nos conteúdos que desperta e a nossa própria reflexão sobre tudo isso.

Os mitos são organizadores e formadores da consciência, o que podemos ver claramente funcionar quando as crianças apreciam as histórias infantis, Sua ação vai do caos inicial à formação do cosmos e da ordem para cada um de nós em particular. Esse é o nosso processo que enfrentamos desde que nascemos, ou seja, a formação e a ampliação da consciência.

Cada pessoa pode perceber e trabalhar com o que foi despertado e tocado pelo desenrolar das histórias. Por exemplo, o que tenho a ver com a falta de escrúpulos de um rei como Agamêmnon ou com a excelência do desempenho de Aquiles e seus objetivos de glória, mesmo rumando para a própria morte? E as ofertas das deusas ao jovem Paris, o que isso tem a ver com os meus valores de ontem e de hoje? Se os cenários e as faixas etárias mudam, certamente haverá mitos adequados que terão e despertarão conteúdos próprios nessas diferentes ocasiões.

Prestamos atenção no desenrolar de histórias e filmes pretendendo antecipar as intenções e conseqüências das opções do diretor. Vemos mudanças, alternâncias, seqüências, conseqüências e muitas coisas (não) muito interligadas, relacionadas ou não. Desenvolvemos o gosto de participar da história através da nossa própria identificação com os papéis de alguns personagens, normalmente um em particular.

Estas reflexões precisam ser integradas nas nossas vidas. A começar pelo valor da imagem e das emoções decorrentes. Como tudo isso interfere e participa no que estamos construindo em nossa existência? Certamente viveremos melhor quando estivermos seguindo o nosso mito pessoal como um todo. Ou seja, quando assim assumimos a responsabilidade de produzir, dirigir e agir no filme das nossas próprias vidas.


Ref.
(1). JUNG, Carl Gustav et al. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.



10 novembro 2008

Lulu Santos e Heráclito


Vamos aceitar o convite de Lulu Santos e Nelson Motta para soltar a imaginação e liberar as fantasias nesse constante fluir:



COMO UMA ONDA NO MAR


Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia

Tudo passa, tudo sempre passará

A vida vem em ondas,como um mar

Num indo e vindo infinito


Tudo que se vê não é

Igual ao que a gente viu a um segundo

Tudo muda o tempo todo no mundo

Não adianta fugir

Nem mentir pra si mesmo - agora

Há tanta vida lá fora

Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar



A letra esclarece sutilmente a questão que atormenta alguns “filósofos” sobre a realidade estar no mundo exterior ou interior... como se fossem excludentes! Com o fluir da energia, ela começa internamente, circula no mundo exterior e volta para o seu ponto de partida. Neste retorno a energia é percebida de forma diferente, pois foi enriquecida pela experiência externa.

O conteúdo desses questionamentos nos remete a Heráclito de Éfeso (na Jônia, atual Turquia), um dos primeiros pensadores chamados de pré-socráticos. Com sua percepção da physis (fundamento, natureza) e a base no elemento fogo, o filósofo proclamou o “Panta Rhei” – ou seja, tudo vai se transformando. A vida é percebida como constante movimento (você não pisa no mesmo rio duas vezes...). O indivíduo a cada momento se transforma e torna-se diferente do que era anteriormente. É o mundo temporal que abarca nossa experiência de vida.
E assim o eu (ego) vai se modificando e incorporando novas expectativas e experiências, precisando seguir seu caminho de constante construção e reconstrução de si mesmo.

A energia precisa fluir, o que é válido tanto para os aspectos físicos como para os psíquicos ( libido - energia psíquica). Esse desenvolvimento possibilita cada ser na busca de sua meta que é tornar-se singular e completo, não negando qualquer componente da sua personalidade ou psique.

O fluir da vida traz a importância do gerúndio, pois o que importa é o que você está fazendo, pensando, sentindo, agindo, planejando, executando. Observar o resultado de tudo isso é entrar na dialética da vida, percebendo a lei que rege os contrários. Como observou Heráclito, quanto mais você se deixa absorver unilateralmente por um ponto de vista, mais você se aproxima do seu contrário. Essa é a dinâmica entre os opostos, cuja mudança pode ocorrer abruptamente. Quando nos aprofundamos em um dos pólos ou extremos de uma questão mais nos aproximamos do seu contrário. A vida pede que se contemplem os contrários e que se busque, na medida do possível, uma posição de equilíbrio dinâmico entre eles. Ou seja, precisamos saber que podemos transitar entre os opostos, mas permanecer em um deles é cristalizar a posição e estancar a energia. As grandes conversões e mudanças de atitude de vida ilustram muito bem essas possibilidades. As conseqüências, boas ou não, poderão ser observadas nos desdobramentos futuros e na plena realização do potencial de cada um.

Uma canção faz sucesso quando toca na alma ou no coração de muitas pessoas, normalmente trazendo temas compartilhados mesmo que não sejam assim percebidos. Aguardar e valorizar o novo faz parte da corrente da vida. A arte mostra o fluir e os intuitivos antecipam o que ocorrerá no consciente coletivo.

Heráclito foi considerado o pai da dialética. A dialética dos contrários traz sempre novas possibilidades. Como uma onda no mar...

07 novembro 2008

Hemisférios Cerebrais

A noção e percepção do conjunto sempre é um desafio. Normalmente damos atenção a um aspecto do problema e deixamos de lado outros que parecem ter menos importância, pelo menos naquele momento. A questão da “figura e fundo” mostra bem isso. Muitos testes e fotos que nos despertam visões que se alternam são de domínio geral. Se num primeiro olhar vejo dois rostos negros numa figura, logo em seguida eles podem se deslocar para o segundo plano e percebo melhor agora um cálice branco. É a dinâmica da Gestalt em funcionamento, apresentando em alguns momentos que algo é figura, mas existe um fundo que poderá alternar para o primeiro plano. É questão de prioridade na nossa percepção. Ou seja: quando valorizamos algo na nossa consciência podemos estar desprezando outros aspectos da questão ou do ambiente!

Não é apenas nossa visão que é seletiva, a consciência também tem essa qualidade. Fazemos escolhas ao nos defrontarmos com os fatos e objetos do mundo. Concentramos muita energia em tudo o que vamos discriminando, esquecendo-nos de que temos um risco nesse processo: e o material que não foi escolhido, o que é feito dele ao ser deslocado para o segundo plano? Como ele se comporá nos nossos processos inconscientes?

Essas são questões importantes que acompanham o nosso processo de ampliação de consciência. O exagero, a paixão e a unilateralidade podem comprometer a busca do equilíbrio e da capacidade de perceber maior potencial da própria vida. A psicossomática enfoca as questões que faltam na psique e surgem na forma de sintomas elaborados no corpo. Nesse aspecto a doença é uma questão de polaridade.

Se podemos a perceber apenas um aspecto da questão, a união dos opostos é uma tarefa individual necessária para apreendermos melhor os conteúdos que se apresentam disponíveis para a nossa consciência.

A natureza trabalha com a integração dos opostos, não se detém apenas em um pólo do fenômeno, a alternância dita o ritmo da vida, como nos batimentos cardíacos. Outro forte exemplo é o funcionamento cerebral. Temos dois hemisférios e cada um deles se manifesta nos lados do corpo. Se alguém tem um acidente vascular cerebral (AVC) no hemisfério esquerdo, ficará comprometido o lado direito do corpo, e vice-versa. Vamos diretamente ao ponto crucial sobre as características desses hemisférios cerebrais:

ESQUERDO. Temos aí as qualidades pontuais e racionais que tanto são valorizadas na nossa cultura: lógica, linguagem (sintaxe, gramática), leitura, escrita, cálculos, contagem, pensamento digital e linear, tempo, análise, inteligência, consciente, consciente, atividade, eletricidade.

DIREITO. Percepção da forma, totalidade, espaço, formas arcaicas e primitivas de linguagem, música, olfato, padrão total, visão abrangente do mundo, pensamento analógico, simbolismo, atemporalidade, holismo, conceitos lógicos, intuição, inconsciente, feminino, passividade, magnetismo.

Fica claro que esse conjunto e totalidade são de grande importância. E antes que valorizemos o outro lado, vamos notar que “quando se trata de contextos que ponham em risco a vida humana ela automaticamente muda de controle do hemisfério esquerdo para o do direito, visto que procedimentos analíticos não são capazes de enfrentar situações de perigo onde se exige calma e competência”. Ou seja, nossas capacidade de análise limita-se aos casos em que tenhamos o mínimo de controle da situação.

Salta aos olhos a necessidade de integração desses componentes. Entretanto, surge uma pergunta instigante: por que a ciência e normalmente cada ser humano em particular, tendem a supervalorizar as questões ligadas ao hemisfério esquerdo em detrimento do seu par e oposto? A vida não se deixa apreender apenas no que pode ser medido e pesado, pois ela flui buscando sua totalidade. Se não consigo medir e pesar objetivamente minhas emoções e o mesmo ocorre com as intuições – nem por isso elas deixam de fazer parte da minha experiência diária. Mas na nossa sociedade ideológica e de consumo infelizmente aparece supervalorizada apenas uma face dessa preciosa moeda que é a nossa mente.

Para ilustrar melhor o assunto, apresentamos dois vídeos do YouTube que relatam forte experiência de uma pessoa que teve um AVC. Os relatos são feitos em dois vídeos para serem vistos em sequência (aproximadamente 10 minutos de duração cada um):

http://es.youtube.com/watch?v=m0O0Il8Vn_g&feature=related

e http://es.youtube.com/watch?v=thWwpYNN3-A&feature=related

Bom proveito. Vamos em frente que a vida é muito rica para ser percebida apenas em alguns aspectos. Um brinde à totalidade do que pode ser vivido!!

04 novembro 2008

Aquiles e Tétis (2)

(Continuação do artigo anterior).

Com a iminência da Guerra de Tróia, Tétis buscou o adivinho Calcas para saber sobre o futuro de seu filho. Então a divina mãe soube que as Moiras, divindades relacionadas com o destino, condicionaram a vitória grega à morte de Aquiles. Na Ilíada, Homero descreve que Aquiles pôde escolher entre duas opções: “uma vida longa e inglória em sua pátria” ou “ter seu nome imortalizado, porém morrer prematuramente”.

Esse dilema pode ser percebido na vida das pessoas em todos os tempos e torna-se questão de estilo de conduzir a própria vida: tentar levá-la sem maiores riscos ou compromissos ou aproveitá-la intensamente, levando a marca de grandes feitos e proezas. Esta dúvida certamente se apresenta na vida das pessoas e provoca escolhas que trazem as devidas consequências.

Para Tétis, como mãe, não havia dúvida na preferência para que o filho fizesse a primeira opção. Certamente gostaria que ele vivesse o máximo de tempo possível. Para isso o levou Aquiles, vestido de mulher, para viver na ilha de Ciros entre as filhas do rei Licomedes. Na mitologia, o travestismo se relacionava a um rito de passagem da adolescência para vida adulta. Aquiles era aí chamdo de Pirra (a ruiva) por ser muito louro. O futuro herói aí permaneceu por algum tempo até que Ulisses (Odisseu, Rei de Ítaca) o encontrou e o convenceu a se juntar aos guerreiros gregos contra a cidadela de Tróia.

A Ilíada descreve em detalhes o último ano da famosa guerra. Os gregos estavam distantes de seu lar e havia conflito declarado entre Agamêmnon e Aquiles. O primeiro era o comandante das forças gregas que com pulso forte e ambição desmedida pelo poder não apresentava qualquer escrúpulo, como demonstrado no sacrifício de sua filha Ifigênia. Aquiles liderava os guerreiros do reino de seu pai Peleu e estava sempre em conflito com Agamêmnon por não concordar com os métodos do comandante e Rei de Micenas. O famoso guerreiro avesso à obediência sem restrições, mostrando personalidade forte e inclinações para a rebeldia. O objetivo do herói era atingir a “imortalidade” pelos seus feitos e não por exercer qualquer poder. O clímax do conflito entre os dois personagens ocorreu em função da disputa pela posse da troiana Briseis que foi aprisionada e feita escrava de Aquiles. Esta jovem e linda mulher era sacerdotisa de Apolo que juntamente com sua irmã Ártemis eram as divindades mais adoradas em Tróia. Com a insistêncica do comandante pela posse de Briseis, Aquiles retirou-se para seu acampamento com a intenção de afastar-se das batalhas.

Nesse ponto, o destino apresentou um fato inusitado: Pátroclo, seu fiel amigo desde os tempos de infância, vestiu a armadura do herói e foi para o campo de batalha. Heitor, o príncipe troiano, pensando tratar-se de Aquiles, travou violenta luta com ele e o matou.

Aquiles, ao tomar conhecimento da morte do amigo, voltou para o campo de batalha e buscou a vingança. Ensandecido e com ferocidade, buscou a revanche, desafiou, duelou e matou o herói troiano Heitor. Não satisfeito, pegou seu corpo e o arrastou pelos arredores até o seu acampamento – mostrando o corpo sem vida como se fosse um verdadeiro troféu. Este ato desrespeitou todo cavalherismo que permeava as lutas. Para haver um enterro que permitisse ao seu amado filho chegar ao Hades, o rei de Tróia Príamo foi até o acampamento de Aquiles e humildemente lhe implorou o corpo do filho para prepará-lo para ser enterrado.

Aquiles, ultrapassando os limites consagrados, perdeu a batalha contra si próprio, pois não demonstrou qualquer autocontrole, perdeu o estilo peculiar e agiu apenas com a emoção. Tudo isso foi-lhe mostrado com altives e sabedoria pelo pai do vencido Heitor, Príamo, que sai de sua inespugnável cidadela e humilha-se diante do guerreiro em prol da honra de seu filho. Não foi a vingança cega que motivou a ação de Príamo e sim a manutenção da nobreza e da fidalguia entre guerreiros.

O grande herói grego encontrou a sua morte através de um guerreiro aparentemente pouco preparado para enfrentá-lo: o jovem Páris que desencadeou o conflito pela posse da sua bela Helena. O deus Apolo, partidário dos troianos, guiou a pontaria de Páris para acertar a flecha em seu calcanhar, único ponto fraco do forte guerreiro. O ferimento causou sua morte, o que levou sua mãe solicitar a Zeus que ele fosse conduzido à Ilha dos Bem Aventurados (sub-divisão do Hades para onde iam os heróis após a morte).

Os guerreiros gregos se sentiam extremamente motivados com a participação de Aquiles. No contexto da nossa sociedade atual, batalhar com altivez mostra o ARQUÉTIPO ligado à atitude de Aquiles que orienta muitas pessoas nos grupos e nas organizações. Aponta ainda para aqueles que buscam desempenhar bem o seu papel, com objetividade e produtividade, sem no entanto se render ao uso e abuso do poder e nem se regalar com as pessoas de autoridade. Seria o bem agir sem a intenção de usufruir ou ascender para a posição do poder. Já as ações de Agamêmnon atualmente remetem à falta de escrúpulos, para quem não há limites na busca da ascensão pessoal e profissional. Mesmo com o sacrifício da própria filha (Ifigênia!) ou de conteúdos internos mais elaborados, pois para muitas pessoas que agem assim o que importa é o sucesso a qualquer preço. Se Aquiles cometeu a hýbris pela falta de controle das suas emoções, a ultrapassagem dos limites feita por Agamêmnon era seu próprio estilo de perseguir o poder a qualquer preço.

Para os gregos, os heróis nasciam dotados de timé e areté, assim como os deuses. Timé era a ética em todos os atos e areté correspondia a excelência tanto nas palavras usadas na oratória em assembléias, como também no uso de armas. As divindades podiam ultrapassar os limites. O herói por, ser mortal e humano, precisava respeitar o métron – a medida de todas as coisas e não ultrapassar os limites, o que corresponderia à hýbris, que era punida severamente pelos deuses.

Com a evolução da nação grega e certa ampliação da consciência, buscou-se valorizar não apenas a força física, mas também o conhecimento e a própria sabedoria.

O “calcanhar de Aquiles” foi a objetivação de uma fraqueza que se mostrou presente inicialmente no seu próprio interior: a busca da imortalidade para um humano iniciada pela sua própria mãe. Foi mostrado no corpo algo que simbolizava a desmedida nos próprios objetivos projetados na mente, além de uma ação no mundo em constante alternância entre dois polos: excelência das atitudes e a raiva instintiva e descontrolada.

É muito natural no ser humano, após realizar grande conquista ou feito, ser tentado por uma fantasia de poder em excesso, de ter atingido certo grau de desempenho que o deixa no ponto elevado da sabedoria. Mas essa posição é o marco dos deuses e assim a hýbris normalmente é sucedida por graves consequências. O orgulho da vitória pode trazer a semente de futuros conflitos, problemas e derrotas.

Foi a mensagem do deus Apolo para o desmedimento de Aquiles e a falta de consciência do seu ponto fraco. Mesmo sendo consagrado herói o seu comportamento foi, como diria Nietzche, “humano, demasiadamente humano”!

02 novembro 2008

Aquiles e Tétis (1)

Aquiles tornou-se o herói grego da Guerra de Tróia, sendo considerado como semi-deus na Hélade (antiga Grécia) por sua valentia, força e destreza no uso das armas. Sua curta vida serviu como exemplo heróico para implantação da aristocracia grega conforme nos narra Homero.

Aquiles era filho de Tétis, uma divindade associada ao mar por sua filiação de deuses marítimos primordiais Nereus e Dóris. Segundo alguns poucos fragmentos decodificados, Tétis foi uma divindade adorada pelos primeiros habitantes da Grécia que acreditavam ser ela a criadora do universo. Essa divindade mitológica permaneceu por muito tempo sendo reverenciada até que os deuses Olimpícos (terceira geração divina, liderados por Zeus) começaram a ser mais amplamente cultuados na Hélade.

Algumas antigas divindades passaram a ter um papel secundário, chegando a cair lentamente no esquecimento. Para acelerar esse processo, visando tirar o apelo popular dos antigos personagens divinos, a elite predominante passou a contar história de Tétis incluindo seu casamento com um mortal.

Inicialmente o oráculo (profecia, revelação) sinalizou que Tétis daria a luz a um filho que destronaria seu pai. Zeus pensou em cortejá-la, mas desistiu com esta ameaça velada, tratando de casá-la com um mortal, no caso Peleu, rei da Tessália (região norte). As profecias anunciadas ajudavam para que determinada divindade pudesse ser afastada para a consolidação de outras.

Segundo a narrativa, Quíron, o “centauro ferido”, orientou Peleu na conquista de Tétis. Dessa relação nasceram sete filhos que seriam mortais devido as qualidades do pai. Mas a mãe não se conformou com essa limitação para os filhos, buscando fazê-los imortais com o uso do fogo. Nessa tentativa, os seis primeiros morreram. Quando Tétis, segurando Aquiles pelo calcanhar, começou o ritual, Peleu retirou o filho com a intenção de salvá-lo. Alguns estudiosos afirmam que Tétis, segurando o filho pelo calcanhar, o mergulhou nas águas infernais do rio Estige para conseguir sua imortalidade. De qualquer forma, ficou a marca e o registro da fragilidade dos calcanhares de Aquiles.

O jovem Aquiles foi criado e educado pelo mestre e centauro Quíron com a supervisão de seu pai Peleu. A mãe Tétis acompanhou à distância o crescimento do filho, estando presente para ajudá-lo e orientá-lo quando necessário.

A alimentação proporcionada por Quíron incluía mel de abelhas (alimento associado a sabedoria e ao conhecimento), com medula de ursos (animal cujo simbolismo é ligado ao poder temporal e à classe dos guerreiros) e de javalis (animal associado à autoridade espiritual e classe dos sacerdotes) e com vísceras de leões (animal com simbolismo de poder, sabedoria e justiça). Seu treinamento ocorria em contato com a natureza e atividades de caça, adestramento de cavalos, medicina, música e também a prática da virtude. Aquiles tornou-se um adolescente muito belo, louro, de olhos vivos, intrépido, simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência.

Se a antiga divindade Tétis não conseguiu fazer de seu filho um imortal, pôde testemunhar a vida de Aquiles coroada de honra e vitórias nas batalhas em que esteve presente. Aquiles foi um dos grandes heróis gregos da Guerra de Tróia, sendo reverenciado e cultuado pelos seus feitos e considerado como modelo a ser seguido pelos jovens por muitas gerações. Este aspecto foi muito bem explorado pelo diretor do filme “Tróia” e principalmente pelo ator Brad Pitt cujo desempenho foi marcante, explorando muito bem o impacto das ações espetaculares do grande herói.

Sua mãe Tétis usufruiu da gratidão de Hera, a grande deusa do Olimpo e de Zeus, seu marido. Se não criou seu filho, cuidou e educou Hefesto quando este foi arremessado do Olimpo e caiu no mar. Hefesto era o deus das forjas e trabalhava com o fogo. Ele passou nove anos sob os cuidados de Tétis no fundo do mar. Hefesto tornou-se o protetor amigo e leal tanto de Tétis como de seu filho Aquiles.

Por isso Hefesto se perfilou com os gregos na famosa guerra, confeccionando também as vestimentas indestrutíveis de Aquiles, além de incentivá-lo a manter-se otimista e valente nas lutas. Em certa ocasião, durante as batalhas, o rio Escamandro, cansado de receber tantos cadáveres em seu leito, pretendeu submergir Aquiles e seus guerreiros. Hefesto usando chamas, labaredas e seu sopro ígneo nas águas de Escamandro, obrigou-o a manter-se em seu leito. Homero, falando através de Aquiles na Ilíada, descreveu lindamente que: “a força do rio está em chamas”.

A educação de Aquiles por Quíron teve como objetivo, além da justa preparação para a luta armada e do cumprimento de um grande destino, o desenvolvimento da oratória. Como já vimos, os gregos buscavam o desenvolvimento completo das personalidades cultuadas. Durante sua educação, o herói teve um grande companheiro e amigo de todas as horas chamado Pátroclo. Aquiles se destacava por sua força, sua destreza como caçador e por ser um guerreiro quase indestrutível em lutas com variadas armas. Pátroclo era o amigo leal que o acompanhava em treinamentos e batalhas.


(continua...)