24 outubro 2008

Jung

A intenção neste blog é mostrar a Psicologia Junguiana nos seus aspectos objetivos, fazendo sua relação com a vida pessoal, coletiva e as artes em geral. A linguagem a ser utilizada será acessível para as pessoas que não são especialistas no assunto, procurando também falar ao coração do leitor.

A Psicologia Analítica ou Junguiana nasceu da observação prática da vida das pessoas e de suas inserções na cultura. O médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung observou o homem como um ser ao mesmo tempo individual e coletivo, precisando usufruir e desenvolver esses dois pólos.

Explicar Jung não se encaixa em resumos. Poderíamos começar perguntando: qual foi a grande sacada de Jung? Ele foi um grande inovador e visionário, propondo inúmeras conceituações que poderiam ser utilizadas como resposta. Vejamos uma delas.

Jung trouxe para o campo da psicologia o conceito de “espiritualidade”, trabalhando numa área evitada pelos cientistas em geral. Partindo do princípio de que toda manifestação humana merece e pode ser estudada, ele se dedicou também ao estudo de religiões comparadas. Ele observou que pessoas de todas as culturas tendem a perceber a existência de certos eventos que estão além de sua compreensão, ou seja, algo por vezes transcende a sua própria consciência. Conteúdos e pensamentos surgem como se fosse do nada. Essa capacidade e riqueza interior traz algo que está além do que percebemos como “eu” (ego). A espiritualidade estaria assim relacionada com todo esse material que nos chega como vindos do céu do nosso inconsciente. Como lidar com isso? Eis a grande questão.

O ser humano manifesta essa busca e esse encontro espiritual em todas as culturas, como também nas religiões. Certa vez, o teólogo (frei) Leonardo Boff perguntou ao Dalai Lama quando de sua visita ao Brasil: “Qual é a melhor religião?”. A platéia aguardou atenta, muitos julgando que ele responderia que era a sua a melhor religião. E a resposta surgiu com tranqüilidade, harmonia e respeito para com toda a humanidade: “É aquela que torna cada um melhor como ser humano!”. Manifestou-se a sabedoria oriental que lida mais intensamente com os processos inconscientes. Com essa resposta, o Dalai Lama sinalizou que a busca do divino pode ser um processo muito diversificado, mas cujo objetivo é esse encontro interior e pessoal.

Sobre a vida individual, Jung a divide em duas metades bem distintas. Na primeira, o indivíduo direciona maior parcela de suas energias na adaptação familiar, social, cultural e de concretização dos seus planos de vida (profissão, família própria, bens materiais, etc). Essa fase de adaptação ao mundo privilegia a expansão, a extroversão, ou seja, o crescimento para fora. Utilizando a poética linguagem de Goethe, seria a diástole (o sangue preenche os espaços e o coração se expande). As palavras chaves seriam eu (ego), consciência e conquistas.

O eu está relacionado ao mito do herói que se constitui na experiência que cada indivíduo concretiza desde o seu nascimento. Os heróis fazem as grandes conquistas, mas podem também estar relacionados com a energia direcionada para suportar as agruras e dificuldades da rotina diária. Todo mundo precisa ser herói nas diversas fases da vida!

A segunda metade da vida é aquela em que a adaptação precisa ser modificada, pois os objetivos normalmente já são diferentes e a transitoriedade da vida já se manifesta. Neste ponto, com maior disponibilidade de tempo, um novo manancial de possíveis realizações se apresenta. É o momento da introversão, ou seja, do crescimento interior e da busca do sentido de vida. É a sístole (Goethe), a contração do coração. A energia pessoal está mais disponível para a caminhada no “processo de individuação”, fluxo em que cada um pode se tornar aquilo que tem o potencial de ser.

Onde há vida, está em andamento o “processo de individuação”. Tudo (já) está ali desde o início como potencial que precisa ser realizado. A samaumeira, grande árvore amazônica, já constituía potencial e (já) estava na pequena semente que a gerou. As condições do ambiente poderão ser melhor trabalhadas para contribuir com esse desenvolvimento.
As duas metades da vida nos remetem à idéia de juventude e maturidade. As pessoas precisam aprender a amadurecer, desenvolvendo o seu potencial e também valorizando adequadamente as novas gerações. O jovem precisa de acolhimento na família e na cultura, até mesmo naqueles processos de questionamentos dos valores que recebe. O ser humano sempre foi indagador e tanto o jovem como a pessoa na maturidade precisam não só aceitar como também praticar esse princípio.

Esse foi o primeiro artigo sobre Jung. Será importante saber um pouquinho sobre a sua Psicologia Analítica para melhor fazermos as ligações com a Mitologia. E vamos aprendendo e refletindo em “fogo lento”, assim tiramos mais sabor da própria vida.

Até a próxima e.... bom proveito!

7 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a proposta do blog. Espero que novos artigos da mesma qualidade possam ser renovados e contribuam para o estudo dos que se interessem por tema tão interessante e rico como este. Parabéns.

Anônimo disse...

Excelente a novidade deste blog. Inova na proposta de conciliar o estudo de Jung com o da mitologia grega ao mesmo tempo em que traz linguagem acessível para aqueles que não são inteiramente familiarizados com o tema. Isso, contudo, não deixa de torná-lo atraente também para os especialistas no assunto, já que apresenta nova abrangência no enfoque de importante temática. Esse primeiro post claramente denota essa vertente ao abordar temas primordiais na temática de Yung, como processo de individuação e a questão da espiritualidade. Grande início de trabalho.

Anônimo disse...

Muito interessante e atraente o tema.Parabens pelo trabalho.
Moises

Anônimo disse...

Li recentemente um livro do Bosco Voar para Viver. Portanto não me surpreende a qualidade deste Blog. Indrid e Bosco sempre são uma aula de cultura e são meus mestres, pois me ensinam a viver, a voar e a ler prazeirosamente.

Anônimo disse...

Difícil,quero aqui contar um pouco(muito srsrrs)sobre mim e como esse casal maravihoso teve grande importãncia em me mostrar o caminho para minha descoberta interior. Sou médica,não frustada com a profissão ,muito pelo contrário,sou boa no que faço ,meus pacientes gostam e tem fideledade por mim,digo em termos de consultório,conseguia resolver grande parte dos sintomas que chegavam a mim ,tive exelente formação,pós etc.13 anos depois de formada, a medida que minha experiência crescia vi que faltava "algo". Projetei minhas insatisfações até chegar a um limite.Ao longo de 6 meses enxerguei que precisava mudar,passei por uma depressão ,não fiz uso de antidepressivos ,o que hoje vi que foi minha melhor escolha,fui ao limite da minha depressão,dei tempo a ela , vivenciei o luto , e quando ,durante esta fase fazia uma introspecção,estamos mais próximos do que nosso inconsciente tenta nos dizer,a resistência diminui,tive 2 grandes descobertas 1 não era alopatia por si só,e 2cresceu em mim o desejo da psicologia,vi como este meu caminho. Começei minha busca. Fico extremamente feliz quando encontro hoje livros que eu comprei na faculdade e como me interessava por eles, eram introduçao a psicologia junguiana,memória,sonhos e reflexões ,tipos psicológicos e manual de psicologia,esse manual estava todo sublinhado,com inúmeras anotações que eu tinha feito,já era fascinante para mim na época,passou-se um kairós ,só que envelheci e com isso amadureci,tinha que passar por tudo para chegar aoende estou agora.
Em julho fiz 2 cursos com o Prof. bosco e me achei ali, era aquilo que eu procurava. A sensação de felicidade é indescritível. Não tenho certeza de nada ,tudo pode mudar,a diferença é que me encontro no meu processo de individuação, e buscando o meu caminho,e com isso observei que todos próximos a mim se sentiram melhor,eu estava feliz e isso transparece à família e eles se sentem melhor também. Se um casal não pode ou quer fazer terapia,se um fizer,ocorrerá mudanças na dinâmica familiar,e é benéfico não só para aquele que está fazendo e sim à todos.
Hoje estou entrando nos estudos da psicologia Junguiana e da Mitologia.
Não tenho palavras para descrever o Bosco e a Ingrid, a SABEDORIA deles me cativou,tenho certeza que fará o mesmo com quem fizer parte deste blog fántástico,temos muito a aprender,precisamos abrir nossas "almas".
A Sincronicidade me fez achá-los,não tenho dúvida.Nem sei como agradecer...
O que posso afirmar é que o blog é FANTÁSTICO ,o livro é ÚNICO,temos grandes autores em que a pesquisa foi baseada ,mas a leitura deste livro de mitologia,não há nada igual,é fluida como a vida e completissímo,e este casal(eles vão me matar),é quase que numinoso metaforicamente. Parabéns!!!!

31 Outubro, 2008 11:55

Anônimo disse...

Ao meu ver, A psicologia junguiana representa um todo, aceitamos todas as escolas, aprendemos com elas,mais tentamos ir um pouco além,não nos fechamos em uma teoria "amarrada",tentamos observar de vários ângulos a mesma situação,o mesmo símbolo,porque ele tem várias representações e vários significados para cada pessoa.Minha identificação com a teoria junguiana vem desde cedo,desde quando era muito nova,mas só agora tive a oportunidade de começar a vivenciá-la.Kairós, Sincronicidade,palavras que vivi e senti na pele. Estou seguindo meu processo de individuação e queria dizer que não devemos ter medo das mudanças ,até porque elas ocorrem mesmo sem que tenhamos consciência delas.Por isso ,se um dia pensou que você pode ou queria mudar o mundo,experimente tentar mudar você mesmo,o que ,inacreditavelmente pode até ser mais difícil, e essa mudança afetará as pessoas em sua volta, e se cada um fizer sua parte, podemos voltar a ter esperança,porque o TODO está dentro de nós .

Anônimo disse...

Tive a oportunidade de fazer os dois cursos citados no blog, são ótimos !!! Baratos, e com um imenso conteúdo, recebemos excelentes apostilas, conseguimos aprender muito. Se der , galera, nada de preguiça devido às férias ,Vão fazer !!! é muito bom mesmo, a este preço, (já que vale muito mais pelo conteúdo dado com excelência),É IMPERDÍVEL!!!
Bora galera...nada de preguiça....