OS GREGOS ESTÃO DE VOLTA
Este primeiro artigo do ano apresentará alguns pontos das nossas atividades e mostrará, na sequência, um resumo de artigo publicado no jornal O GLOBO (17 janeiro 2009, Caderno ELA) com o título OS GREGOS ESTÃO DE VOLTA. Neste início de um novo ano, percebemos certo retorno dos valores gregos atuando na sociedade e na cultura, ganhando destaque na mídia.
Este é portanto o ponto de reinício dos nossos artigos e vamos diretamente a alguns pontos gerais:
1) GRUPOS DE ESTUDOS. Há articulações diversas no sentido de fechar grupo de estudos nos módulos de INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA JUNGUIANA e também MITOLOGIA GREGA. Os encontros semanais são dinâmicos, colaboram para aspectos culturais e de autoconhecimento, como também para a discussão em grupo de aspectos das vivências humanas à luz dos conhecimentos da psicologia e da mitologia. São grupos de 6 a 8 pessoas que se reúnem em dois turnos de 1h e 15min, com um pequeno intervalo. Os períodos disponíveis são as noites de terças, manhãs e tardes de quartas. Quem tiver interesse pode solicitar mais detalhes por email, como indicado no blog.
2) EVENTOS sobre nosso livro. Tivemos dois eventos sobre o nosso livro: na livraria Argumento do Rio Design Barra e na FNAC do Barrashopping. Agradecemos aos amigos a presença e também o estímulo. É muito importante perceber que pessoas usufruem e colaboram com os assuntos e temas desenvolvidos. Deixamos alguns volumes disponíveis em São João del-Rei(MG) com Lurdinha (Largo do Rosário, 74).
3) CURSO DE FÉRIAS. Está em pleno andamento esta atividade na Universidade Estácio de Sá. As turmas de A LINGUAGEM SECRETA DOS SONHOS e INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA JUNGUIANA estão em pleno andamento num ritmo tranqüilo e ao mesmo tempo vibrante, com a participação estimulante de bom número de pessoas. Em julho a atividade deverá ocorrer novamente nos Campus Akxe e Tom Jobim (Barra da Tijuca).
4) ARTIGOS NO BLOG. É importante que as pessoas se cadastrem para recebê-los. Entretanto o envio para os endereços pessoais ocorrerá em números alternados. Assim, as pessoas poderão acessar o blog para a leitura daqueles não enviados. E poderão perceber notícias e novidades, como também fazer comentários e sugestões.
5) OS GREGOS ESTÃO DE VOLTA (O Globo, 17 jan 09). Resumo do artigo.
Quando a crise bate, a tendência é buscar a solução nos ensinamentos da Grécia. Assim, retomam-se antigos valores gregos na moda, na culinária, na forma de pensar o mundo e em outras vertentes.
Como o homem pode alcançar a felicidade? Qual o sentido da vida? Estas e tantas outras perguntas feitas pelos (filósofos) gregos estão na ordem do dia. Há um crescente número de cursos diversos sobre o tema Grécia, ocorrendo inclusive listas de espera.
O filósofo Fernando Muniz explica que o retorno aos gregos é cíclico e surge em momentos de crise, como o atual. Mas por que será que, desde o Renascimento, há esse retorno cíclico aos gregos? Frisando que só retornamos porque viemos de lá, o mencionado filósofo diz que nossas origens têm raízes nos gregos. E acha que a tentativa de retornar a eles ocorre quando estamos buscando um ponto de partida. Uma busca que é praticamente uma viagem.
- É curioso, porque o retorno é um tema grego. A Odisséia é a história do retorno e também do reconhecimento, explica. Quando volta para Ítaca, Odisseu se perde e é exatamente ao se perder que ele acaba se reconhecendo e voltando para casa.
Para esse autor, quando retornamos aos gregos, de certa forma queremos voltar para casa. Não em busca daquilo que nos é familiar, mas de um lugar onde exista outra possibilidade de vida.
- Então não é uma volta ao passado, mas uma projeção para o futuro. Nós queremos ir até onde eles estão e, nesse sentido, eles estão muito além.
Lembrando que o momento atual é de muito vazio, algo inabitável, ele diz que voltar aos gregos é também apreender a experiência de um passado riquíssimo que possibilita entender o mundo, os outros e nós mesmos.
Com um viés psicanalítico, o autor alerta para que não nos atiremos numa busca narcisista.
- Não podemos querer encontrar nos gregos aquilo que já somos. Nesse sentido a Odisséia é modelar. Para Odisseu (Ulisses) se reconhecer, foi preciso que, de certa maneira, ele se perdesse. Para encontrar outra possibilidade, é preciso se perder. E os gregos nos oferecem essa oportunidade porque são diferentes de nós. Eles pensavam, viam e sentiam completamente diferente.
Segundo Muniz, fomos reconduzidos a um individualismo egoísta, em que os próprios desejos e satisfações são moedas de troca. E, ao mesmo tempo em que isso é uma evidência inegável, há uma percepção, principalmente na juventude, do quanto isso é insuportável em termos de vida. Surge uma tentativa de encontrar modos de construção de uma forma digna de viver. – De que maneira eu posso tornar minha existência digna, um valor não comercializável, ou seja, a vida não no sentido fisiológico, mas no sentido ético? Esse senso de dignidade da vida se perdeu. A dignidade como comportamento ético, mais ou menos inspirada na citação de Sócrates: Uma vida que não se examina não merece ser vivida.
O vazio que sentimos hoje nos coloca em sintonia com os gregos. Porque ao pensar neles invocamos o aspecto trágico da existência, a compreensão da vida a partir dela mesma.. E como estamos diante de um futuro muito tenebroso, nossos jovens que olham esse horizonte e acabam tendo pouca razão para ter qualquer tipo de sonho, otimismo ou utopia. Dessa forma, experimentam um desamparo diante da vida que se aproxima da cultura trágica. Esse espetáculo da fragilidade humana, que é a tragédia, segundo esse filósofo, hoje encontra público numa juventude desiludida diante do mundo. Para ele, os alunos hoje sentem uma identificação com esse universo, achando que com os gregos eles se sentem acompanhados.
Para o escritor e psicanalista Carlos Eduardo Leal, os gregos estão de volta simplesmente porque foram eles que levantaram as melhores perguntas sobre o ser humano e pensaram como respondê-las. - Questionamentos sobre a tranquilidade, felicidade e ética são fundamentais e até hoje estão sem respostas. Portanto, voltar à sabedoria grega é buscar respostas para nossa angústia recorrente.
Para Leal, o terceiro milênio não trouxe as respostas que muitos esperavam. Seja do ponto de vista religioso, psicanalítico, ético/moral. Faltam caminhos que guiem o homem, e ele tem consciência de que a psicanálise não dá respostas, porém sua experiência expõe questões fundamentais sobre os limites do homem. É preciso dar um basta ao conceito abrangente de globalização que propõe um mundo sem bordas, sem limites. Alguém já viu uma piscina sem bordas, um rio sem margens? Pois o que o mundo tenta é fazer um ser humano sem limites.
Leal acha que isso beira a perversão. Ele cita as tragédias naturais (Santa Catarina) ou entre os homens (guerra, narcotráfico, escândalos financeiros), destacando que elas também estimulam o retorno aos gregos, que tinham na tragédia o drama humano por excelência: o herói e um destino inequívoco a cumprir. E complementa:
- O mundo anda perdido, deambulando, tal como Édipo em Colona, já cego pelos crimes cometidos: parricídio e incesto. Diante desse avanço irrefreável, às cegas, muitos buscam respostas atuais para antigas questões. E buscar sabedoria é buscar um sentido para a vida. O que é clássico. Então eu pergunto: a angústia diante da falta de respostas para a vida nos reenviará sempre aos gregos, aos consultórios dos psicanalistas ou às igrejas?
6) Nossa conclusão sobre o artigo acima:
O enfoque psicanalítico ressalta a importância do assunto e certamente auxilia numa melhor compreensão da realidade que vivemos atualmente. Jung, no desenvolvimento da Psicologia Analítica, dedicou muita atenção no estudo e nas relações dos conteúdos da mitologia grega em nossas vivências, como também da filosofia. Ele tornou-se um profundo conhecedor desses temas e questionamentos que auxiliam tanto o ser humano individualmente no seu processo de individuação como também na atividade clínica. Mitos e sonhos constituem farto material para ser trabalhado e elaborado na relação analítica, colaborando na transformação individual e coletiva.
Com esse potencial criativo, que retorna sempre para nossas vivências, os gregos, os mitos, os questionamentos e os deuses são representantes dos arquétipos do inconsciente coletivo. Estas questões estão bem desenvolvidas no nosso livro MITOLOGIA E VIVÊNCIAS HUMANAS, mostrando que os mitos são sempre atuais, participando das imagens e emoções que acompanham nossas vidas. O conhecimento dos mitos permite um questionamento tanto pessoal quanto coletivo, polos indissociáveis da experiência humana. Nesse sentido, não só a leitura desse livro como também a participação nos Grupos de Estudos podem auxiliar no conhecimento maior de si próprio, dos valores gregos e da própria humanidade.
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