30 outubro 2008

Filmes

A indústria do cinema já nos brindou com inúmeras películas que exploraram as potencialidades da mitologia grega, notadamente a saga dos diversos heróis. Essas histórias foram referência e orgulho na formação e consolidação da cultura grega, podendo as pessoas comuns se espelhar nas conquistas e vitórias desses personagens lendários.

No desenvolvimento da personalidade, as pessoas repetem e vivenciam etapas ou temas compartilhados como os descritos em toda mitologia.. Os conteúdos desse processo são simbólicos, comuns aos seres humanos em geral. Esse é o ponto que tanto motiva as pessoas a estudar ou ver os filmes relacionados com esses conteúdos. Quando ouvimos, lemos ou vemos as histórias contadas nossa atenção é captada quando nos identificamos com algum personagem, suas dúvidas, desafios, dificuldades e planos. Se não houver essa identificação, a história ou o filme nos parece desinteressante e sem atrativos. A saga dos herói é atrativa e cativante porque as pessoas tem suas lutas e objetivos e é sempre bom perceber que isso é compartilhado.

A primeira parte do estudo da mitologia grega nos apresenta oportunidade para realçar a importância de um grande evento contado por Homero (primeiro escritor ocidental) que nos legou em forma de versos duas obras: Ilíada e Odisséia. A Ilíada nos mostra os antecedentes e o desenrolar da Guerra de Tróia e a Odisséia mostra o retorno do herói grego vencedor chamado Ulisses (nome latino do grego Odisseu) para o seu lar na ilha de Ítaca.

Atualmente temos três filmes relacionados com esses temas que utilizamos para ilustrar nosso estudo. Nos nossos Grupos de Estudos, as pessoas participam com muito entusiasmo, pois além de entretenimento e cultura os conteúdos permitem muitas ligações com as vivências humanas e universais. Neste blog debateremos também o assunto após o lançamento do livro MITOLOGIA E VIVÊNCIAS HUMANAS. Os filmes mencionados são:

1) “Helena de Tróia” – (Universal) dirigido por John Kent Harrison que nos narra “uma das maiores histórias de amor de todos os tempos”. Podemos classificar esta versão como clássica, pois procura acompanhar a narrativa da Guerra de Tróia descrita por Homero, mostrando a como os deuses se posicionaram neste evento que durou dez anos míticos.

2) “Tróia” – (Warner Bross) dirigido por Wolfgang Petersen. “Brad Pitt assume o comando de uma espada e leva às telas uma atuação viril no papel do virtualmente imbatível guerreiro Aquiles... Tróia é a nata do moderno cinema épico, inspirado em uma das mais célebres obras da literatura: a Ilíada, de Homero.” A narrativa do filme segue o padrão de espetáculo de Hollywood, focalizando o desempenho e a importância do grande herói grego Aquiles.

3) “A Odisséia” – (Alpha) o filme de Francis Ford Coppola, dirigido por Andrei Konchalovsky mostra as aventuras de Ulisses após a Guerra de Tróia.. O herói criou o ardil do Cavalo de Tróia que permitiu a vitória dos gregos, mas enfrenta uma viagem de volta ao lar cheia de flagelos, feitiços, armadilhas e surpresas proporcionados pelos deuses Olímpicos. Esta história é muito rica em conteúdos simbólicos e psicológicos, fornecendo material para muita reflexão.

Mesmo para quem já assistiu a esses filmes, sugerimos aguardar a leitura do início do nosso livro para uma nova apreciação das narrativas que certamente se mostrarão mais ricas com o conhecimento prévio de certos detalhes. E assim poderemos participar e compreender melhor as diferentes interpretações e opiniões. Mas se quiserem vê-los agora certamente é uma opção também válida.

Com o intuito de lançar certa expectativa interessante sobre o assunto, mostraremos nos dois próximos artigos, conteúdo lançados como sugestão recente em Grupo de Estudos. Houve curiosidade e demanda por maiores detalhes em relação ao personagem Aquiles e sua mãe Tétis. Acreditamos que será proveitoso poder explorar um pouco mais esse ponto, mesmo que o material disponível pelos historiadores não seja tão farto e abrangente. Outros pesquisadores após Homero não exploraram tanto o tema desse herói e sua mãe, pois muitos perceberam que a importância de Aquiles foi pontual na aristocrática Grécia que se impunha através de lutas e conquistas.


Atenção:
A partir de agora realçaremos com sublinhado palavras e temas que são explicados e melhor elaborados no nosso livro MITOLOGIA E VIVÊNCIAS HUMANAS.
Conceitos da Psicologia Junguiana serão sublinhados e colocados também “entre aspas”. Alguns foram explicados no livro mas todos poderão ser motivo de artigo aqui no blog.
Assim pessoas iniciantes poderão ir memorizando essas palavras e se acostumando lentamente com os significados.

25 outubro 2008

Mitologia

Ao começar o estudo sobre mitologia, sentia-me confusa e perdida com os inúmeros nomes, lugares e tentava inutilmente um entendimento racional. Em pouco tempo me cansava, mas uma curiosidade despertava a vontade de prosseguir. Um dia, li uma reportagem sobre a entonação da leitura, onde um apreciador de Fernando Pessoa relatava sua ida a um sarau. No texto, escreveu sobre seu desespero ao ouvir as poesias declamadas sem emoção; havia apenas a leitura fria e automática, sem a participação do coração para fornecer os elementos de entonação e pontuação com leitura vibrante.

A partir de então, continuei meus estudos e leituras, deixando a emoção me guiar de modo a fazer exercício da irracionalidade e buscando familiarização com aspectos de tempo/espaço relativos (Kairós). Foi assim que, estudando ‘os princípios’, descobri os mitos, deuses, lugares e ações tanto na Grécia antiga como no mundo que me cerca e que, ao mesmo tempo, se situam dentro de mim. Essa emoção me proporcionou o desejo de escrever sobre mitologia, fazendo um apanhado mais condensado, com palavras simples para iniciar pessoas que buscam se aprofundar neste assunto tão vasto.

Em seus primórdios gregos, os mitos eram passados de forma oral para as novas gerações através dos contadores de histórias conhecidos como aedos. Os poemas eram recitados nas praças e normalmente encantavam as pessoas e famílias dos povoados. A partir do século VIII a.C., os mitos, através de Homero e Hesíodo, os primeiros escritores do mundo ocidental, chegaram até nós pela poesia escrita, pelas palavras dos poetas denominados “fingidores”. Essas sagas relatam mitos que nos permitem vislumbrar e fantasiar o que nossos ancestrais vivenciaram como também perceber os paralelos com o que vivemos hoje.

Para o grego, as gerações divinas se sucederam numa seqüência distinta entre o grau de influência feminino e masculino, associando o primeiro aos deuses da Terra e ao mundo inferior. Já a influência do masculino estava relacionada aos deuses celestes.

Permeando essa viagem pelo mundo grego através dos séculos, foi possível contemplar sentimentos, emoções e uma série de paradigmas que se mantêm atuais e atuantes na vida cotidiana. Conhecer o universo da mitologia possibilitou vivenciar e experimentar todas essas aventuras que em realidade estão dentro de nós mesmos. Esse é o convite aos leitores de mitologia: viajar nesse universo repleto de mistérios, possibilidades e de instigantes descobertas.

Ingrid


24 outubro 2008

Grécia

Além de nos ter legado as bases da civilização ocidental, a Grécia é um país atraente cuja população recebe muito bem os turistas, demonstrando prazer em compartilhar as belezas naturais e a sua cultura. A enorme e formosa extensão marítima é marcante singularidade, como se os mistérios dessas águas abarcassem a mente grega.

Grécia é o nome latino da Hélade, país de cujos habitantes (helenos) se originaram de vários povos indo-europeus e do oriente próximo asiático. Inicialmente a concepção de vida estava ligada ao matriarcado, sendo o feminino gerador de vida associado à mãe Terra. Entretanto essa fase que propiciava a integração entre o feminino e o masculino foi superada com a influência do caráter patriarcal de povos guerreiros e nômades indo-europeus.

A religião não se constituía em conhecimento específico ou dominado por certos segmentos da sociedade. O grego vivenciava uma integridade de vida e de propósitos, estando religião, política, profissão, família, conhecimento interligados e relacionados, apresentando-se numa mesma concepção ou visão de mundo. Pode-se dizer que era inconcebível ao grego antigo ter uma prática de vida diferente do discurso ou da fala que apresentasse.

Esse é um ponto interessante se comparado ao mundo atual da hiper-modernidade onde predomina o “império do efêmero”, a racionalidade extremada e o consumismo desenfreado. Vemos ainda, na atualidade, profunda segmentação da sociedade, grupos distintos colocando sempre seus interesses em primeiro plano, faltando uma visão mais ampla e geral da sociedade. Impera o egoísmo e a noção exagerada de interesses setorizados.

O mundo grego lançou e vivenciou as bases da democracia participativa e do respeito aos cidadãos. Um país em sucessivas lutas externas e internas procurava valorizar a individualidade do ser humano e o respeito à vida e aos valores coletivos.

De acordo com Jean-Pierre Vernant, nesse tipo de religião, como a grega, impregnada no tecido social, o indivíduo não ocupa lugar central. Ele procura no culto religioso muito mais que a simples salvação pessoal da sua alma. A sintonia com a vida coletiva faz com que haja a valorização dos papéis e responsabilidades como membro de uma “fratria” ou tribo. Busca-se a relação direta com as divindades no sentido de Potência e chances de desenvolvimento humano.

Os gregos não tiveram messias ou dogmas nem geravam expectativas sobre possíveis salvadores da pátria. Cultuavam seus heróis e vivenciavam religião e política como um todo. A ética fazia parte integrante da vida privada e pública.

Os valores gregos se mantiveram mesmo que abaixo da linha da superfície em várias ocasiões de dificuldades. Isso mostra que a vida avança em ciclos, o que pode ser comprovado pela crise moral e financeira que o mundo assiste nesse início de século XXI. Nesta crise atual, muitas pessoas almejam retornar a maior equilíbrio dos valores e metas de vida.

Conhecer um pouco mais o passado pode contribuir para jogar novas luzes sobre as possibilidades futuras. Se o mundo se perdeu no materialismo cultuado pelo comunismo e praticado pelo capitalismo, talvez seja melhor analisar melhor as conseqüências do estilo de vida contemporâneo.

Os deuses contados por Homero tinham os requisitos fundamentais que serviam de modelo para os homens: eles possuíam areté e timé. A primeira qualidade diz respeito à excelência ou superioridade reveladas nas batalhas ou na arte do uso das palavras nas assembléias. Timé era a honra, nobre ideal a ser perseguido sempre. E os deuses alertavam para o limite de todas as coisas, pois os homens não deveriam ultrapassar certa medida nas suas ações e atitudes.

Viver em um mundo melhor é mais que um desejo, é acima de tudo o grande sonho que o homem alimenta, mas tem dificuldades em deixar como legado para seus filhos. Imaginar uma sociedade em que as relações pessoais, econômicas, políticas e religiosas contemplem quase sempre as noções de excelência e honra chega às raias do impossível. Se errar é humano, também poderia ser valorizada a atitude de agir e falar com excelência, procurar fazer bem feito o que precisa ou merece ser feito.

Se esse mundo grego foi a utopia relatada por Homero, não podemos afirmar com certeza. Essas bases do pensamento originada na Hélade nos dão material para muita reflexão. É possível imaginar que se o homem muitas vezes age de forma a não respeitar a medida das coisas, contrariando os deuses, ele também pode procurar uma integração maior na sua vida. Isso modificaria sua relação com o planeta, com os animais e com os outros seres humanos. Vale lembrar e imaginar como John Lennon. “Imagine”.

Os helenos bem que tentaram. Mesmo sendo difícil segui-los, vale a pena pelo menos a tentativa e o esforço de compreendê-los melhor. E isso não parece presente de grego!

Até a próxima. Paz!

Jung

A intenção neste blog é mostrar a Psicologia Junguiana nos seus aspectos objetivos, fazendo sua relação com a vida pessoal, coletiva e as artes em geral. A linguagem a ser utilizada será acessível para as pessoas que não são especialistas no assunto, procurando também falar ao coração do leitor.

A Psicologia Analítica ou Junguiana nasceu da observação prática da vida das pessoas e de suas inserções na cultura. O médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung observou o homem como um ser ao mesmo tempo individual e coletivo, precisando usufruir e desenvolver esses dois pólos.

Explicar Jung não se encaixa em resumos. Poderíamos começar perguntando: qual foi a grande sacada de Jung? Ele foi um grande inovador e visionário, propondo inúmeras conceituações que poderiam ser utilizadas como resposta. Vejamos uma delas.

Jung trouxe para o campo da psicologia o conceito de “espiritualidade”, trabalhando numa área evitada pelos cientistas em geral. Partindo do princípio de que toda manifestação humana merece e pode ser estudada, ele se dedicou também ao estudo de religiões comparadas. Ele observou que pessoas de todas as culturas tendem a perceber a existência de certos eventos que estão além de sua compreensão, ou seja, algo por vezes transcende a sua própria consciência. Conteúdos e pensamentos surgem como se fosse do nada. Essa capacidade e riqueza interior traz algo que está além do que percebemos como “eu” (ego). A espiritualidade estaria assim relacionada com todo esse material que nos chega como vindos do céu do nosso inconsciente. Como lidar com isso? Eis a grande questão.

O ser humano manifesta essa busca e esse encontro espiritual em todas as culturas, como também nas religiões. Certa vez, o teólogo (frei) Leonardo Boff perguntou ao Dalai Lama quando de sua visita ao Brasil: “Qual é a melhor religião?”. A platéia aguardou atenta, muitos julgando que ele responderia que era a sua a melhor religião. E a resposta surgiu com tranqüilidade, harmonia e respeito para com toda a humanidade: “É aquela que torna cada um melhor como ser humano!”. Manifestou-se a sabedoria oriental que lida mais intensamente com os processos inconscientes. Com essa resposta, o Dalai Lama sinalizou que a busca do divino pode ser um processo muito diversificado, mas cujo objetivo é esse encontro interior e pessoal.

Sobre a vida individual, Jung a divide em duas metades bem distintas. Na primeira, o indivíduo direciona maior parcela de suas energias na adaptação familiar, social, cultural e de concretização dos seus planos de vida (profissão, família própria, bens materiais, etc). Essa fase de adaptação ao mundo privilegia a expansão, a extroversão, ou seja, o crescimento para fora. Utilizando a poética linguagem de Goethe, seria a diástole (o sangue preenche os espaços e o coração se expande). As palavras chaves seriam eu (ego), consciência e conquistas.

O eu está relacionado ao mito do herói que se constitui na experiência que cada indivíduo concretiza desde o seu nascimento. Os heróis fazem as grandes conquistas, mas podem também estar relacionados com a energia direcionada para suportar as agruras e dificuldades da rotina diária. Todo mundo precisa ser herói nas diversas fases da vida!

A segunda metade da vida é aquela em que a adaptação precisa ser modificada, pois os objetivos normalmente já são diferentes e a transitoriedade da vida já se manifesta. Neste ponto, com maior disponibilidade de tempo, um novo manancial de possíveis realizações se apresenta. É o momento da introversão, ou seja, do crescimento interior e da busca do sentido de vida. É a sístole (Goethe), a contração do coração. A energia pessoal está mais disponível para a caminhada no “processo de individuação”, fluxo em que cada um pode se tornar aquilo que tem o potencial de ser.

Onde há vida, está em andamento o “processo de individuação”. Tudo (já) está ali desde o início como potencial que precisa ser realizado. A samaumeira, grande árvore amazônica, já constituía potencial e (já) estava na pequena semente que a gerou. As condições do ambiente poderão ser melhor trabalhadas para contribuir com esse desenvolvimento.
As duas metades da vida nos remetem à idéia de juventude e maturidade. As pessoas precisam aprender a amadurecer, desenvolvendo o seu potencial e também valorizando adequadamente as novas gerações. O jovem precisa de acolhimento na família e na cultura, até mesmo naqueles processos de questionamentos dos valores que recebe. O ser humano sempre foi indagador e tanto o jovem como a pessoa na maturidade precisam não só aceitar como também praticar esse princípio.

Esse foi o primeiro artigo sobre Jung. Será importante saber um pouquinho sobre a sua Psicologia Analítica para melhor fazermos as ligações com a Mitologia. E vamos aprendendo e refletindo em “fogo lento”, assim tiramos mais sabor da própria vida.

Até a próxima e.... bom proveito!

19 outubro 2008

KAIRÓS

Essa é uma antiga palavra grega que significa "o momento certo" ou "oportuno". Os gregos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairós. Enquanto o primeiro refere-se ao tempo cronológico, linear ou sequencial, kairós é um momento indeterminado em que algo especial acontece.

O tempo cronológico é medido, tem quantidade estipulada nas convenções e no calendário. Ele parece ser inexorável, ele passa incessantemente, podemos chamá-lo de tempo dos homens. Ele é descrito nas horas, dias e anos. Ele está ligado à nossa consciência que considera a sequência dos eventos.

Kairós é ligado à qualidade como é vivido, é um tempo "divino". Nós o percebemos muitas vezes em nossas vidas contendo os momentos especiais e inesquecíveis, que por isso mesmo não se perdem no tempo comum. Ele está ligado aos processos inconscientes como se fosse uma realidade sobre-humana. Assim ele flui de forma circular, vai e volta, pode ser ritualizado e marca os momentos mais que luminosos e emocionantes de nossas vidas.

Esse "tempo mágico" ou oportuno inspira o endereço do nosso blog como um convite para que possamos nos despojar da razão exagerada e cronológica e voltarmos a brincar com o tempo e vivê-lo com leveza e intensidade. O espírito infantil é livre para aprender e criar e é isso que buscamos resgatar com a busca da compreensão da totalidade humana. O arquétipo da "eterna criança" deve encontrar acolhida em nossos corações para que possamos prosseguir na travessia de nossas vidas. Aprendendo sempre, pelo menos tentando. Como dizia o poeta: "como um eterno aprendiz"!

Você leitor pode se juntar a nós na busca dessas possibilidades, questionando e sugerindo.

Boa sorte para todos nós!

Boeing